Antônio Vicente chamou a atenção de todos quando comprou um pedaço de terra à 200 km de São Paulo para começar a plantar árvores. Essa atitude fez com que seus vizinhos começassem a chamá-lo de louco, mas, ao invés de abortar a ideia, ele continuou firme.
“Quando comecei a plantar, as pessoas me diziam: ‘você não viverá para comer as frutas, porque essas árvores vão demorar 20 anos para crescer'”, relata Antônio, que finaliza: “Eu respondia: ‘Vou plantar essas sementes, porque alguém plantou as que estou comendo agora. Vou plantá-las para que outros possam comê-las.”
Hoje, Antônio tem 84 anos e comprou seu terreno em 1973, época em que o governo militar oferecia facilidades para investimentos na tecnologia agrícola, para impulsionar o ramo da agricultura no país, porém, a ideia de Antônio era justamente o oposto disso.
“Quando era criança, os agricultores cortavam as árvores para criar pastagens e pelo carvão. A água secou e nunca voltou”, explica. “Pensei comigo: ‘a água é o bem mais valioso, ninguém fabrica água e a população não para de crescer. O que vai acontecer? Ficaremos sem água.”
As florestas são fundamentais para a preservação da água porque absorvem e retém esta matéria-prima em suas raízes. Além disso, evitam a erosão do solo.
Quando tinha 14 anos, o senhor saiu do campo e foi trabalhar na cidade como ferreiro e com o dinheiro da venda de seu negócio, ele comprou 30 hectares em uma região de planície perto de São Francisco Xavier, distrito de 5 mil habitantes que pertence a cidade de São José dos Campos.
“A vida na cidade não era fácil”, lembra ele. “Acabei tendo de viver debaixo de uma árvore porque não tinha dinheiro para o aluguel. Tomava banho no rio e vivia debaixo da árvore, cercado de raposas e ratos. Juntei muitas folhas e fiz uma cama, onde dormi”, diz Vicente.
“Mas nunca passei fome. Comia sanduíches de banana no café da manhã, almoço e jantar”, acrescenta. Foi quando retornou ao campo que Antônio começou a plantar suas árvores, uma a uma, e hoje formam uma floresta tropical úmida, com aproximadamente 50 mil unidades.
Enquanto ele queria plantar árvores, a agricultura fez com que cerca de 183 hectares de mata atlântica fosse desflorestada em São Paulo. O que antes cobria 69% do estado, hoje a proporção caiu para 14%, é um número assustador, conforme informa a Fundação Mata Atlântica SOS e o INPE.
“Em 1973, não havia nada aqui, como você pode ver. Tudo era pastagem. Minha casa é a mais bonita de toda essa região, mas hoje não se pode tirar uma foto desse ângulo porque as árvores a encobrem, porque estão muito grandes”, brinca Vicente.
Com o replantio, muitos animais reapareceram. “Há tucanos, todo tipo de aves, pacas, esquilos, lagartos, gambás e, inclusive, javalis”, enumera. “Temos também uma onça pequena e uma jaguatirica, que come todas as galinhas”.
Os cursos de água voltaram a brotar, quando Antônio adquiriu o terreno, havia apenas uma fonte d’água, hoje, esse número subiu para 20. Que essa história sirva de exemplo para todos nós!