Dr. Rogério Brandão, um médico cancerologista, com quase 30 anos de atuação, descobriu de uma forma bastante emocionante que sempre podemos ir além. Foi em seus primeiros passos na carreira, no Hospital do Câncer em Pernambuco em que ele se apaixonou pela oncopediatria.
Lá, ele pode vivenciar de perto os dramas enfrentados por crianças com câncer, o que deixou-o ainda mais emotivo quando teve sua primeira filha e não queria, de forma alguma, vê-la passar por aquilo.
Foi então que um garotinho de 11 anos apareceu em sua vida, depois de enfrentar dois longos anos de tratamento contra o cancro, o que envolvia injeções, manipulações médicas e qualquer tipo de desconforto que os tratamentos químicos para curar a doença são aplicados na criança.
O que deixou o médico mais impactado é que em nenhum momento o garoto fraquejou, apesar de várias vezes já tê-lo encontrado chorando e com o medo expressado em seus olhos.
“Um dia, cheguei ao hospital cedinho e encontrei meu anjo sozinho no quarto. Perguntei pela mãe. A resposta que recebi, ainda hoje, não consigo contar sem vivenciar profunda emoção.
— Tio, disse-me ela — às vezes minha mãe sai do quarto para chorar escondido nos corredores… Quando eu morrer, acho que ela vai ficar com muita saudade. Mas, eu não tenho medo de morrer, tio. Eu não nasci para esta vida!
Indaguei: — E o que morte representa para você, minha querida?
– Olha tio, quando a gente é pequena, às vezes, vamos dormir na cama do nosso pai e, no outro dia, acordamos em nossa própria cama, não é? (Lembrei das minhas filhas, na época crianças de 6 e 2 anos, com elas, eu procedia exatamente assim.) É isso mesmo.
– Um dia eu vou dormir e o meu Pai vem me buscar. Vou acordar na casa Dele, na minha vida verdadeira!
Fiquei “entupigaitado”, não sabia o que dizer. Chocado com a maturidade com que o sofrimento acelerou, a visão e a espiritualidade daquela criança.
– E minha mãe vai ficar com saudades – emendou ela.
Emocionado, contendo uma lágrima e um soluço, perguntei:
– E o que saudade significa para você, minha querida?
– Saudade é o amor que fica!
Hoje, aos 53 anos de idade, desafio qualquer um a dar uma definição melhor, mais direta e simples para a palavra saudade: é o amor que fica!
Meu anjinho já se foi, há longos anos. Mas, deixou-me uma grande lição que ajudou a melhorar a minha vida, a tentar ser mais humano e carinhoso com meus doentes, a repensar meus valores. Quando a noite chega, se o céu está limpo e vejo uma estrela, chamo pelo “meu anjo”, que brilha e resplandece no céu.
Imagino ser ela uma fulgurante estrela em sua nova e eterna casa.
Obrigado anjinho, pela vida bonita que teve, pelas lições que me ensinaste, pela ajuda que me deste. Que bom que existe saudade! O amor que ficou é eterno”.