Há muitos anos que o Brasil já era considerado como um dos países mais ricos do mundo em
biodiversidade, mas de acordo com uma pesquisa recente feita por biólogos brasileiros e
liderada pelo professor Jos Barlow, da Universidade de Lancaster, a importância do Brasil
nesse aspecto é ainda maior do que todos imaginavam.
Após um árduo esforço coletivo para compilar e revisar dados sobre biodiversidade na região dos trópicos, o qual resultou num amplo estudo publicado na revista Nature, chamado de “O futuro dos ecossistemas tropicais hiperdiversos”, os cientistas concluíram que o Brasil possui 23% de todos os peixes de água doce do planeta, 16% de todas as aves e 12% dos mamíferos, o que representa nada menos que 15% dos animais do globo terrestre.
Em entrevista à BBC News Brasil, o professor Jos Barlow destacou que a comunidade científica sempre soube da importância do Brasil em termos de biodiversidade, mas que os números finais obtidos pela pesquisa foram bastante surpreendentes, especialmente em relação a alta porcentagem de espécies de aves e peixes de água doce existentes no país.
As maiores ameaças às espécies tropicais
Um dos principais tópicos levantados por esse estudo foi em relação ao risco de
desaparecimento de diversas espécies tropicais, muitas ainda desconhecidas pelos biólogos e cientistas. Para evitar que isso aconteça, é essencial que o governo do Brasil e de outros países tropicais promovam ações de monitoramento e conservação desses ecossistemas. Para se ter uma ideia, os ecossistemas tropicais abrigam quase 80% de todas as espécies e são a fonte de renda de centenas de milhares de pessoas. Porém, o desmatamento e a pesca predatória, em conjunto com o aquecimento global, tem causado danos irreparáveis a esses biomas, os quais necessitam ser recuperados o mais rápido possível para que as milhares de espécies de animais e plantas da região consigam sobreviver.
A questão da coleta e da catalogação de espécies
Outro problema que atrapalha na proteção e na preservação das espécies tropicais é o atraso nos sistemas de coleta e de catalogação. De acordo com os cientistas, cerca de 20 mil espécies novas são descobertas no planeta anualmente, e seguindo esse ritmo, seriam necessários mais de 300 anos para que todas as espécies do planeta fossem descobertas e catalogadas.
Sem que haja um conhecimento amplo sobre o maior número possível de espécies que fazem
parte de um ecossistema, a tarefa de protegê-las do desmatamento e do aquecimento global
se torna praticamente impossível. Para contornar esse obstáculo, a bióloga Joyce Ferreira, que participou desse estudo, acredita que é essencial que o Brasil desenvolva um programa extensivo, de incentivo a coleta de dados em todo o país. Segundo ela, atualmente a maior parte das pesquisas são feitas nas áreas de fácil acesso, devido a falta de apoio para explorar regiões e áreas mais distantes.
Em 2014, o governo brasileiro deu o primeiro passo nesse sentido, ao criar o Sistema de
Informação Sobre a Biodiversidade Brasileira (SiBBr), que faz parte da esfera de atuação do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações (MCTIC). Contudo, essa iniciativa ainda não trouxe os resultados esperados e não tem sido tão abrangente quanto deveria.