Você pode não saber, mas alguns cães da União Soviética foram para o espaço muito antes dos americanos, e fizeram história no mundo. O escritor Richard Hollingham, que será chamado apenas como RH, escreveu um livro relatando a história dos cachorros enviados para o espaço em meados do século XX. O livro tem o título de “Space Dogs: The Story of the Celebrated Canine Cosmonauts” (“Cães espaciais: a história dos celebrados cosmonautas caninos”, em tradução livre)
O experimento serviu pra mostrar como um organismo vivo consegue sobreviver no espaço, em um ambiente onde a gravidade não existe. Belka e Strelka, duas cadelas que fizeram a viagem de ida e volta, quando chegaram em solo firme foram tratadas como verdadeiras heroínas.
RH compartilhou com o portal BuzzFeed News um pouco mais de como funcionou toda essa operação:
O que fazia dos cães os candidatos ideais para as primeiras viagens espaciais?
RH: É preciso entender que as pessoas não tinham ideia se os humanos conseguiriam sobreviver na ausência de gravidade do espaço. Essa era a questão principal. Havia crenças de que as acelerações fariam o coração explodir, de que não daria para respirar e de que todo o metabolismo paralisaria na gravidade zero. Considerando que nós evoluímos como criaturas que vivem neste ambiente perfeito de 1G, alguns acreditavam que, sem ela, nossos corpos simplesmente falhariam.
Algum desses cachorros morreu?
RH: A intenção nunca foi matar cachorros. Eles os capturavam vagando nas ruas de Moscou. Normalmente, usavam fêmeas porque elas não precisavam levantar a perna para urinar. As cápsulas eram bem pequenas, então, era mais fácil assim. Os cães também eram bem-cuidados — eram amados, acho que é justo dizer, e submetidos a um treinamento muito extenso, dados os pequenos trajes espaciais, e aclimatados a esse ambiente.
Mas, inevitavelmente, um bom número deles morreu. Um foguete pode explodir. A reentrada pode falhar. É difícil dizer uma quantidade precisa de mortes porque nós não temos os números de todos os cães que foram para o espaço, mas cerca de metade deles não sobreviveu. No entanto, a intenção nunca foi essa; houve pouquíssimas ocasiões em que eles sabiam que os cães morreriam.
Como esses cachorros foram recebidos pelo público quando retornaram do espaço?
RH: O que é muito interessante é que o único cachorro que eles sabiam que não voltaria era Laika, que foi o primeiro animal a entrar em órbita. Após o lançamento do Sputnik 1, o primeiro satélite (em 1957), eles eram capazes de enviar um cachorro para o espaço, mas não de trazê-lo de volta. Então, quando fecharam a cápsula do Sputnik 2, sabiam que Laika morreria.
A intenção era que ela morresse na cápsula em paz e sem sofrimento. Infelizmente, da forma como aconteceu, a cápsula superaqueceu e ela provavelmente teve uma morte bastante dolorosa. Eu mencionei isso devido à forma como Laika foi representada na cultura depois disso — ela frequentemente é retratada de maneira estoica. É quase como se representasse a pátria. Todas as imagens são bem nobres e sérias.
Os animais ainda são enviados para o espaço hoje em dia?
RH: O que é realmente importante aqui é lembrar que esses voos com cães não foram em vão. Tudo, de Laika a Belka e Strelka, e até cães posteriores — tudo o que foi aprendido enriqueceu o programa espacial humano. Todos os astronautas de hoje devem o que nós sabemos sobre sobreviver na ausência de gravidade… ao pioneirismo involuntário desses cães espaciais. Dito isso, ninguém mais faz voos com cães; também não fazem voos com chimpanzés, que foi o que os Estados Unidos fizeram, embora ratos e insetos ainda sejam usados no espaço.
A realidade é que a maioria dos experimentos agora são feitos com humanos. Recentemente, Scott Kelly passou um ano inteiro na Estação Espacial Internacional. Cada astronauta no espaço passa por exames de sangue, biópsias musculares e se envolve em pesquisas. Então, os experimentos agora mudaram para a realização de pesquisas propriamente ditas em seres humanos no espaço, mas nós ainda temos uma grande dívida com o trabalho pioneiro desses cães espaciais.
Belka e Strelka, quando retornaram, se tornaram verdadeiras celebridades, até hoje elas são lembradas como ‘cachorras que foram pro espaço antes dos homens’. Laika, por sua vez, virou um símbolo de heroísmo, e até mesmo cartões postais com sua imagem foram fabricados e vendidos, como homenagem.
